terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um número e X letras.

Era uma vez um número. O número Um.
Um dia o número Um decidiu que estava farto de ser um número.

- ‘Números há tantos e eu sou apenas mais um. Bom era ser uma letra.’ – Pensou o primeiro dos números.

Então, o número Um lá saiu dos algarismos e decidiu ir falar com uma letra para ver se conseguia entrar no restrito mundo do alfabeto. Quando chegou ao abecedário encontrou aquilo um bocado vazio.
Bateu à porta e quem atendeu foi uma vírgula.

- Boa tarde, eu sou o número Um, posso falar com a letra A? – Perguntou o número Um, julgando que, por ser a primeira, a letra A seria a responsável pela organização do alfabeto.
- Olhe, a letra A foi à Argentina ajudar na alteração da assembleia dos animais. Parece que antes era a Avestruz que mandava, mas houve eleições e elegeram a Arara. – Respondeu a Vírgula.
- Ah! É pena. Então e o B? O B está? – Pergunta o número.
- Não, o B foi à Bélgica buscar um barco para que as outras letras possam dar a volta ao mundo no próximo Verão. – Disse a Vírgula.
- Então e está aí alguma letra que possa falar comigo? – Quis saber o Um.
- Ora, só cá está o X. Vou chamá-lo. – Respondeu a Vírgula prontamente.

Alguns segundos depois…

- Queria falar comigo? – Perguntou uma letra com um aspecto muito tristonho.
- Sim, sim. Sabe, é que eu gostava de ser uma letra. Números há muitos e eu sou só mais um. – Respondeu o Um.
Um contentamento começava a transformar-se em brilho nos olhos do X. Rapidamente as expressões enfadonhas do X deram lugar a um pequeno sorriso escondido.
- Sabe, Sr. Um, eu estive a pensar e… olhe e se trocássemos? Eu ia para junto dos outros algarismos e você ficava aqui. Que acha? É que aqui com as outras letras sinto-me pouco útil. Todas são muito requisitadas, vão à Argentina, ao Japão, ao Brasil… todos vão algum o lado, menos eu! Você já viu que não existe um único país com X? – Reclamou o X.
- Pois, agora que fala nisso, faz muito sentido. Sabe o que lhe digo? Acho uma excelente ideia! Vamos trocar! – Respondeu o Um com ansiedade!
- Então fazemos assim: trocamos hoje e daqui a uma semana encontramo-nos para ver se vale mesmo a pena trocarmos. Que tal? – Propôs o X.
- Combinado! – Disse o Um.

Uma semana se passou e voltaram a encontrar-se. Para surpresa de ambos, estavam os dois com uma expressão triste.

- Que se passou para estar com essa cara, X? – Perguntou o Um.
- Bom, ao início gostei muito de lá estar com os algarismos. Nunca ninguém sabia quem eu era e pensavam que eu era um número mascarado. Sabe, devia ter-me dito que no Carnaval todos os números se mascaram de X. É que passavam o tempo a perguntar-me: ‘és tu 4?’ ou ‘Oh 2, és tu que estás por detrás desse X?’. E, embora no início fosse giro, passado uns dias já começava a chatear e ninguém acreditava que eu era uma letra. Além disto, passavam o tempo a perguntar por si. O número Vinte andava preocupado de morte porque nunca mais tinha visto o seu melhor amigo – o Dezanove – e pelo que percebi uns quantos números andam desaparecidos. Olhe, sem si, aquilo anda uma bandalheira. – Respondeu o X.
Nisto o Um começa a ficar com umas lágrimas a escorrer pela face.

- Tenho saudades de ser um número, tenho saudades de me mascar de X, de ser o ajudar o 9 a chegar aos Dezanove, tenho saudades de ser mais um. – Disse triste o número Um.
Enquanto concluíam como tinha sido a troca o X espreitou para o alfabeto e reparou que as letras estavam todas a tremer de frio e sempre muito tristes.
- Que se passa convosco? – Perguntou o X.
- Temos saudades tuas! – Respondeu o C.
- Ora, não têm nada! Para que é que eu sirvo? Ao menos junto dos números sempre sou especial e diferente. – Argumentou o X.
- Mas aqui também és especial. Sem ti temos passado tanto frio! Tu levaste os xailes. E lembras-te das festas que fazíamos todos os dias? Já não as fazemos pois só quem sabe tocar o xilofone és tu. Volta, por favor. Sabes, Xangai tem telefonado todos os dias porque precisam de ti. E olha que Xangai é a maior cidade da China!

Então o X começou a sentir-se especial e com o Um concluíram que deveriam regressar para junto dos seus, pois são quem mais precisava deles.
Mas toda esta aventura não foi em vão e todos os anos o alfabeto passou a ir ao Carnaval dos números. Os números mascaravam-se de letras e as letras de números.

E foi assim que nasceu a Matemática.

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